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24 janeiro 2025

Reconhecimento da Relação Avoenga: A Importância do Vínculo Socioafetivo no Direito de Família

Rosana Radlich

O conceito de família no Direito Brasileiro tem evoluído ao longo dos anos, acompanhando as mudanças sociais e culturais. O reconhecimento das relações familiares não se limita mais a laços biológicos, mas abrange também vínculos socioafetivos. Nesse contexto, a relação avoenga, ou seja, o reconhecimento da figura dos avós socioafetivos, ganha destaque, especialmente em casos em que a convivência afetiva se estabelece ao longo do tempo, independentemente da relação sanguínea. 

A Família e suas Novas Configurações 

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, assegura o direito à convivência familiar, reconhecendo a família como base da sociedade. No entanto, o conceito tradicional de família, centrado na biologia e na estrutura nuclear, está sendo ampliado para incluir as diversas configurações familiares que existem atualmente. Com isso, relações como as de avós socioafetivos começam a ser reconhecidas como legítimas e dignas de proteção jurídica. 

O Vínculo Socioafetivo 

O vínculo socioafetivo é aquele que se estabelece por meio da convivência, do carinho e da relação de afeto, independentemente da relação de sangue. O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.593, menciona que os parentes são aqueles que têm entre si um vínculo de sangue ou de afinidade. Contudo, a jurisprudência majoritária tem se mostrado cada vez mais receptiva ao reconhecimento de vínculos que não se enquadram estritamente nesses critérios, permitindo que relações afetivas sejam consideradas para fins legais e patrimoniais. 

Destaca-se a afetividade como sendo um dos fatos que podem gerar efeitos jurídicos de, até mesmo, criar o parentesco civil por “outra origem”. Nesse sentido, ao ser mencionado “outra origem” abre-se um leque de possibilidade quanto ao reconhecimento de parentesco que não resulte da consanguinidade ou adoção, possibilitando o reconhecimento da relação socioafetiva. 

Ao pleitear o reconhecimento de uma relação socioafetiva, seja de paternidade ou avoenga, o elemento comprobatório deve estar lastreado, em sua essência, no amor, no afeto, no respeito, no cuidado e em outros valores que constituem a base da sociedade. 

Reconhecimento Jurídico da Relação Avoenga 

A relação avoenga é aquela em que os avós exercem uma relação de cuidados, amor e apoio emocional aos netos, mesmo que não haja laços sanguíneos. O reconhecimento dessa relação é fundamental e necessário, pois assegura direitos e deveres, além de garantir a continuidade da convivência familiar. 

A jurisprudência brasileira tem avançado nesse sentido. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e os Tribunais de Justiça estaduais têm proferido decisões que reconhecem a importância dos vínculos socioafetivos, permitindo que netos socioafetivos pleiteiem direitos sucessórios e outros benefícios legais, invocando, sobretudo, o princípio da dignidade da pessoa humana. 

Aspectos Jurídicos e Implicações Práticas 

O reconhecimento da relação avoenga traz diversas implicações jurídicas. Entre elas, destaca-se o direito à herança. Quando os avós falecem, seus netos socioafetivos podem reivindicar a qualidade de herdeiros, mesmo que não haja relação biológica. Essa proteção é essencial para garantir a continuidade do suporte emocional e financeiro que essas relações proporcionam. 

Além disso, o reconhecimento da relação avoenga contribui para a estabilidade emocional dos netos, que, ao saberem que seus vínculos afetivos são reconhecidos legalmente, sentem-se mais seguros e valorizados. Essa segurança emocional é crucial para o desenvolvimento saudável do relacionamento familiar. 

Conclusão 

O reconhecimento da relação avoenga no Direito de Família brasileiro é um avanço significativo na proteção das relações familiares contemporâneas. A valorização dos vínculos socioafetivos reflete uma sociedade que reconhece a diversidade familiar e busca assegurar direitos e deveres que vão além dos laços biológicos. A continuidade do reconhecimento e da proteção dessas relações é fundamental para garantir a estabilidade emocional e a convivência familiar, pilares essenciais para uma sociedade mais justa e inclusiva. 

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