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16 junho 2025

Riscos silenciosos da postergação sucessória nas empresas familiares

STG Law

Em um país onde mais de 90% das empresas têm origem familiar, a postergação do planejamento sucessório é um risco recorrente e, muitas vezes, subestimado. No dia a dia, decisões urgentes tendem a engolir discussões estratégicas. Temas como sucessão, governança e divisão de responsabilidades são frequentemente deixados para depois, como se pudessem esperar indefinidamente. No entanto, esse adiamento silencioso é uma das maiores ameaças à continuidade do legado construído ao longo de décadas. 

As crises sucessórias raramente nascem de rompantes. São fruto de um acúmulo de silêncios, omissões e decisões não tomadas. Formam-se lentamente, no compasso da falta de diálogo, da ausência de estrutura e do receio de encarar o futuro. Em vez de se preparar para o inevitável, muitos fundadores preferem manter o controle até o último minuto. Essa postura, embora compreensível do ponto de vista emocional, é arriscada do ponto de vista institucional. 

O fator tempo é determinante. Quanto maior a maturidade da estrutura familiar e corporativa, menor a dependência de decisões centralizadas em uma única figura. Mas ainda assim, o próprio fundador, em muitos casos, evita discutir a sucessão, seja por medo de conflitos internos, apego à identidade construída ou pela ilusão da perenidade do negócio. 

Na prática, isso se traduz em famílias emocionalmente desestruturadas, herdeiros despreparados para liderar e empresas que perdem competitividade em momentos críticos de transição. Quando o planejamento não existe ou está incompleto, a sucessão ocorre sob pressão. Em contextos de crise, de luto ou de urgência, decisões importantes tendem a ser tomadas de forma reativa, e não estratégica. Isso impacta diretamente o valor do negócio e a coesão familiar. 

Governança como base para a sucessão familiar 

 A governança corporativa surge como instrumento central para romper esse ciclo. Não se trata apenas de institucionalizar regras, mas de criar um ambiente de previsibilidade, diálogo e corresponsabilidade. Ao estabelecer conselhos, comitês e processos claros, a governança antecipa cenários, reduz incertezas e protege a empresa de decisões improvisadas. 

O Protocolo Familiar, por exemplo, é uma ferramenta essencial nesse processo. Ele permite que os membros da família discutam abertamente temas sensíveis, como critérios para entrada de herdeiros na gestão, remuneração, sucessão, alienação de participação societária, entre outros. Tudo isso com mediação técnica e em um ambiente estruturado. Mais do que um documento, o protocolo é a formalização de um pacto. Um compromisso entre as gerações em nome da perenidade. 

A estruturação jurídica também desempenha papel decisivo. Holdings patrimoniais, acordos de sócios, testamentos e planejamentos tributários bem desenhados não são meras formalidades. São instrumentos de equilíbrio e escudos contra litígios. Com base nesses mecanismos, é possível organizar a sucessão com eficiência, distribuindo poder, responsabilidade e patrimônio de maneira justa e funcional. 

Um ponto importante: estruturas jurídicas bem definidas não visam excluir, mas proteger. Elas garantem que todos os membros da família compreendam seus papéis, direitos e limites, reduzindo disputas e fortalecendo os vínculos entre os envolvidos. 

O impacto da sucessão mal planejada 

Recentemente, em uma conversa sobre sucessão em grandes conglomerados familiares, voltei a refletir sobre o caso da Samsung. Após o falecimento de Lee Kun-hee, patriarca do grupo, o que se viu foi uma breve instabilidade, não operacional, mas institucional e simbólica. A ausência de um planejamento sucessório suficientemente claro e resolvido deflagrou uma série de desafios: um dos maiores pagamentos de imposto de herança da história da Coreia, disputas familiares e uma cobertura midiática intensa sobre os bastidores da transição. Mesmo com uma estrutura corporativa sólida, o impacto foi significativo. O caso evidencia como a falta de preparo para a sucessão pode gerar ruídos e tensões que afetam não apenas a família, mas também a imagem e a estabilidade da empresa. 

Empresas familiares que demonstram clareza sucessória e maturidade de governança transmitem confiança. Isso se reflete nas relações com investidores, instituições financeiras, fornecedores e colaboradores. O mercado valoriza a previsibilidade e a previsibilidade nasce da estratégia. 

Além disso, o planejamento sucessório não apenas preserva a operação. Ele assegura a continuidade do espírito fundador da empresa: seus valores, sua cultura e sua forma de tomar decisões. Quando bem conduzida, a sucessão não dilui a identidade da organização. Ao contrário, reforça-a, ao mostrar que o legado é forte o suficiente para atravessar gerações. 

Uma sucessão bem-sucedida começa no presente 

Planejar a sucessão não significa abrir mão do controle. Significa garantir que ele seja exercido com sabedoria e continuidade. Significa transformar um momento delicado em uma oportunidade de fortalecimento institucional. 

O futuro de um legado não pode ser pautado pela sorte. Postergar decisões importantes é, na prática, permitir que o acaso decida o destino do negócio familiar. O tempo, quando ignorado, torna-se vilão. Mas, quando usado com inteligência, transforma-se no principal aliado da perenidade. No fim, uma sucessão bem-sucedida é aquela que respeita o passado, organiza o presente e prepara o futuro. 

 

 

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